domingo, 7 de janeiro de 2018

A BANALIZAÇÃO DO INACEITÁVEL


Num ano em que não uma, mas duas tragédias sem precedentes parecem ter aberto os olhos de uma nação para uma outra tragédia que, de outro modo, passaria mais uma vez adormecida entre tantas outras notícias - os incêndios que assolam o nosso país há décadas - após o fim de 2017, outra parece continuar... perdida numa letargia difícil de compreender:

As mortes nas estradas portuguesas.

O ano passado faleceram nas estadas portuguesas 509 pessoas. De acordo com um artigo no Diário de Notícias, aqui:

" De acordo com os números disponibilizados no 'site' da ANSR, que contabilizam a última semana de 2017 e têm dados acumulados de todo o ano, morreram nas estradas portuguesas 509 pessoas, mais 64 do que em 2016 (12,5%).

Foram registados 130.157 acidentes nas estradas (127.210 em 2016) e 2.181 feridos graves (2.102)."

E é assim, de forma fria e crua, que se refere que, em média, por dia, quase duas pessoas perderam a vida nas estradas.  Em média, por dia, quase 6 pessoas ficaram gravemente feridas nas estradas.

E um facto como este parece passar, entre tricas de Duponts e Duponts, raríssimas, financiamento dos partidos, gripes, secas, frio... sem que oiça ou veja qualquer real referência. Parece, para a grande maioria da sociedade,já algo... banal.

E isto custa-me a compreender. 

O meu Pai referia muitas vezes, que a sinistralidade nas estradas era comparável a uma guerra permanente no nosso país, com vitimas mortais todos os dias. E ele tinha absoluta razão. Só para se ter uma noção do drama vivido, há mais de 50 anos, no nosso país, fui buscar ao Pordata, aqui, os seguintes valores:





Nem vou ofender os sentimentos de quem viu os seus amados partir, dizendo coisas como "mas olhem, reparem como a sinistralidade, apesar de tudo, tem diminuído..." Continua a ser demais. Grotescamente demais.

Fala-se de quanto nos custou a crise, e o resgate pedido ao FMI... Então, vejam o que nos tem custado, não só em vidas mas também finaceiramente, os acidentes, só nesta década, até Setembro do ano transato:

"Desde o início desta década e até à semana passada morreram nas estradas portuguesas 5.424 pessoas, com os acidentes rodoviários a provocarem um prejuízo económico superior a 15 mil milhões de euros."

Não pretendo aqui dissertar sobre possíveis motivos, e formas de combater esta tragédia interminável. Nem é suposto. Fala-se que o Estado falhou com o País, em relação aos incêndios? Então e em relação às estradas? Falha connosco há décadas, sem que se veja mais que um outro vídeo de sensibilização inerte, e imberbe no impacto que tem. 

COMO é que algo com esta enormidade não está no topo da agenda política em Portugal?!  Que "Pedrogão" será necessário acontecer (mais) nas nossas estradas, para que igualmente o país acorde para este drama, e se mobilize?!


(Foto retirada do site www.bombeiros.pt, deste artigo)
 

"APOLITICAR" - Parte 1

A dissociação entre a percepção da realidade da nossa classe política e as reais preocupações do cidadão comum nunca foi, penso, tão grande...